"Pessoal, em 1984 eu compus uma música inspirado no meu estado de espírito e na verdade como eu me sentia e a letra tinha um trecho que dizia: ...'Não há beco | Nem rua, buraco ou esquina | Em cima, embaixo, no meio, no fim. É inútil buscar um lugar mais seguro | Onde eu possa ficar, pra me livrar de mim'.
De um tempo pra cá, tenho buscado muita paz e uma forma sustentável de vida, de alegria, de saúde e tenho conseguido melhorar, porém com a Escola de Sustentabilidade, nosso grupo e a Fundação Terra Mirim, esse processo foi catalisado de uma forma inefável, pois o convívio com a Mãe Natureza, a reflexão sobre a simplicidade e ao mesmo tempo a complexidade pronta e disponível dessa integração, têm me ajudado muito, tem me feito muito bem e por isso o trecho acima da música Eu e Eu passou a ser: ... 'Em qualquer beco, rua, buraco, esquina, em cima, embaixo, no meio, no fim | É possível, sim, buscar um lugar mais seguro | Onde eu possa ficar bem pertinho de mim'.
Nessa última semana, que começou com o encontro no terraço da Barra, onde assistimos o documentário I Am, mostrando a mudança de vida de um grande produtor cinematográfico, que encontrou a felicidade que antes não tinha, e logo em seguida com o contato com o grande professor, escritor e antropólogo Ordep, que com sua sabedoria nos contou estórias dos índios e uma série de casos do seu convívio, excita a gente, faz com que reflitamos mais sobre esses exemplos.
Depois tive na Comunidade Terra Mirim o contato com os elementos, terra, água, ar, plantas medicinais e os exercícios e participações, em grupo, com o compartilhamento de todos os ensinamentos e práticas que passam a fazer parte de nós e alegra nossa alma. Lembro de, durante a caminhada pela trilha onde visitamos a horta e o plantio das ervas, um contato afetuoso com as plantas que pareciam me acariciar, tocando no meu corpo, borboletas voando em minha frente, como se me conduzisse pelo caminho: Essa sensação é muito importante, é muito forte, faz um bem danado. O trabalho com a argila, tanto de pintar como de passar no corpo, o banho de ervas, o banho no rio, tem um significado muito acima do nosso conceito racional, pois está bem acima e é naturalmente Divino. Somando isso tudo a um estado de meditação com o Yoga Xamânico, bem conduzido por uma orientadora brilhante, certamente, propiciou a todo grupo um estado de espirito contemplativo e mais sensível na busca do encontro com nosso Eu Maior. Na verdade tudo que estamos aprendendo e compartilhando vai nos preparar para criar uma Comunidade Sustentável." - Asdrubal Alvim, Salvador.
"Em uma atmosfera de simplicidade e reverência, entramos no viveiro da Terra Mirim com as xamãs Mhinana e Zuca, para que cada um/a escolhesse sua folha para o banho coletivo. Era 17 de abril e, sintonizados/as com o Brasil, pensamos que precisaríamos da força da Guiné, da calma da Água de Alevante, do descarrego do Quioiô, da beleza do Lírio branco do brejo e das florzinhas da Dama da Noite, entre outras. Andando pelo terreno da Mirim, fomos colhendo folhas e flores, e com ajuda das xamãs, preparamos o banho, num grande balde azul, com água do rio e folhas maceradas calmamente e coletivamente.
Por fim jogamos as flores que completavam a beleza do que fazíamos. Cada um de nós foi benzido em seguida por Alba e Mhinana, com a água da jarra que saía do grande balde e escorria pelo nosso corpo em união profunda da nossa Natureza com a da Grande Mãe, e ouvia as palavras carinhosas e encorajadoras que um/a colega pronunciava em nossa homenagem. Gratidão Alba e comunidade de Terra Mirim." - Débora Nunes, Salvador.
"Queridos Alba Maria (Jamileh - que significa beleza em Árabe) e Dhan,
Vocês ainda estão comigo desde que nos conhecemos e me sinto muito abençoada de ter conhecido vocês. Eu também tenho muito carinho pelos laços que tenho com a minha irmã Thais por quem nutro grande respeito e confiança. Ela me guiou até vocês…
A alegria que se revelou não apenas pela ayahuasca mas por toda a minha jornada ainda esta em mim. Eu nunca senti essa paz interior, é um sentimento novo que ainda estou aprendendo e vendo como se acomoda em meu corpo. No dia da Cabana eu chorei sem parar, e na ayahuasca eu não conseguia parar de sorrir. Parte de mim morreu naquele solo com minhas lágrimas, suor e sangue escorrendo na terra. Eu me encontrei renascendo na ayahuasca, com a lua revelando uma nova eu renascida.
Ainda estou observando meu comportamento e sentimentos após retornar, existe um sentimento de incerteza no ambiente que me cerca. Meus sentidos estão bastante aguçados e embora eu sinta tranquilidade em mim e muita calma e alegria, eu estou muito sensível as energias projetadas por tudo que me cerca. Me sinto viva!
Uma observação é sobre eu e Anas atravessando a fronteira que liga a Jordânia e Palestina, controlada pela ocupaçnao Israelense. Toda a minha vida eu temi essa travessia, eu tinha dor de estômago e atravessava com muita raiva em mim. Eu estava sempre preocupada quando eles me revistavam, minhas coisas, meu corpo. Desta vez o sentimento foi diferente. Senti que finalmente eu tinha algo que eles não podiam tocar ou ter. Eu carreguei essa energia positiva que era tão poderosa a ponto de eu e Anas estávamos literalmente rindo e todos os soldados tinham um olhar confuso quando olharam para a gente. Eles não souberam como lidar com a gente e pela primeira vez senti pena deles! Eles estavam oprimindo a si mesmos! é tão simples, eu tenho essa energia maravilhosa que estou compartilhando com tantos outros aqui na Palestina e eles não podiam parar ou alcançar!
Gratidão pelo seu acolhimento, vocês estão comigo assim como eu estou com vocês, morando nela." - Noora Baker, Ramallah | Palestina.
"O cavalo é uma criatura que possui a habilidade de encontrar seu caminho de volta para casa, no entanto meus pés podem somente seguir a sombra! Eu não confiei em cavalgar o cavalo quando ele começou a esfregar seu casco na pedra do meu coração e ele continuou cavando para dentro da minha cabeça para encontrar seu caminho e permitir que a luz entrasse… isso foi na noite do dia 20 de Fevereiro. Dois dias depois, eu perdi a aposta, os corações de Troia foram libertados e abertos diante de suas muralhas, manifestados na Ayahuasca. Somente então eu escutei a voz da minha mãe sussurrando no meu ouvido direito: abra o seu coração para o vento para que as borboletas possam voar.
No início eu acreditei no meu desejo, e depois de um tempo não havia motivos para abrir meus olhos novamente, eu fiquei a noite inteira de olhos fechados. as asas do vento estavam carregando as pedras do deserto tudo na minha presença, e dai havia os cavalos, somente os cavalos.
A Ayahuasca não me deu nada, ela abriu a ignorância do meu coração para tudo ao meu redor e falou comigo: escolha o que você puder, pois essa é a verdade. Naturalmente eu vou chorar, pois quando você se encontra pela primeira vez você também encontra o universo pela primeira vez. Você esquece todas as armadilhas da sua vida quando aprende a caminhar e a Ayahuasca segura você pela mão e te ajuda a caminha por elas novamente um passo de cada vez, enquanto você canta: caminha a trilha dos anjos em sua descoberta por Deus.
Eu atravessei essa jornada e continuo suspenso nela. Todas as experiências da minha vida passaram deixando um efeito sutil na minha alma e mente, mas não essa. Ela continua em mim, absorvendo todos os enigmas que eu girava em torno do universo, e ela se cravou no meu corpo, dando a ele a batida da vida e me permitindo ver através dele o outro lado do universo. Você começa a ver cores ao invés de preto e branco. Quando você começa a compreender o que vê, tudo que resta fazer é chorar e então você grita para o céu: de que forma eu tenho vivido minha vida?! Dai a Ayahuasca vem calmamente, uma mulher por volta dos seus 70 anos e toca seu ouvido esquerdo e te fala: deixe a chama dos cavalos e deixe o passado apenas como uma razão para chorar. Dai tire os seus sapatos porque você está destinado aos céus "você passou esse tempo todo perdido nos labirintos, e ele finalmente te trouxe até aqui, para o seu primeiro renascimento."
Quantas vezes um ser humano pode renascer? Quantas vezes você pensa em vão que o medo é o caminho do conhecimento? E esse sentimento de abismo é maluquice? Quantas vezes você vai acreditar que cair do abismo é liberdade e que o medo é um produto do sistema que tem o objetivo de controlar nossas emoções, e que a estrada para o amor é pavimentada com espinhos.
Minha escrita para vocês nunca vai terminar pois vocês trouxeram luz para a minha vida…" - Anas Abu Oun, Ramallah | Palestine